Nesta segunda edição, o Cascais Ópera uniu-se ao projeto “Sopradores de Imagem”, permitindo que o público cego e de baixa visão possa aceder, de forma independente, à Grande Final da competição, que se realiza no dia 4 e maio, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian. Com esta iniciativa, o concurso internacional de canto possibilitou também a formação dos primeiros sopradores de imagem, em Portugal, na área da música clássica.
“Os sopradores de imagens são um projeto francês, que estamos a implementar em Portugal, e que pretende aumentar a participação das pessoas cegas e pessoas com baixa visão nos museus, nos teatros, nos eventos, em qualquer aspeto cultural de uma cidade”, explicou Fátima Alves, uma das impulsionadoras da iniciativa.
Os sopradores de imagens são pessoas voluntárias – estudantes, profissionais da área da cultura ou de qualquer outra área – que pretendem tornar os espetáculos mais acessíveis para este público-alvo.
Em Portugal, o projeto tem menos de um ano, e até aqui a comunidade de sopradores não contava ainda com voluntários com formação específica na área da música clássica. Ao associar-se ao projeto, o Cascais Ópera abriu essa possibilidade. Para além da oportunidade de formação, o concurso disponibilizou lugares na Grande Final para os sopradores de imagem, por cada compra por parte de uma pessoa cega ou de baixa visão.
Enquanto o espetáculo decorre, os sopradores de imagens descrevem, ao ouvido do espetador, aquilo que se está a acontecer em palco, sejam os vestuários, gestos, luzes ou movimentos, “o que for pertinente”, como referiu Fátima Alves. “Como é que a cantora está vestida? Como é que o pianista está? Há só um piano? Mas que tipo de piano é esse? E que ambiente é esse? Que informação visual temos à nossa frente? Isto são elementos que, se não forem ditos à pessoa cega, ela não vai ter essa informação, e é essa informação que faz com que se tenha uma perceção do mundo ou deste espaço mais completo. É isso que se pretende, é levarmos essas informações, da forma mais breve, mas completa.”

A formadora clarificou ainda que a “sopragem” é sempre feita antes de se iniciar um momento musical. “No final, quando as pessoas batem palmas, podemos, por exemplo, adicionar alguns elementos que ocorreram durante o espetáculo, tais como a postura da cantora, se era uma pessoa que mexia, que andava pelo palco, ou se ficava sempre num ponto fixo, se teve expressão facial intensa, portanto, damos alguns elementos que durante o canto não faz sentido referir.”
Para poderem desempenhar esta função no Cascais Ópera, os voluntários inscreveram-se e realizaram uma formação, que aconteceu na Casa Sommer e durante as primeiras provas da competição.
“Há algum tempo que estava a procurar um voluntariado e, quando encontrei este projeto, que trabalha com a música clássica, que [é algo que] amo também, não tive sombra de dúvida de que poderia, tanto ajudar, como aprender”, partilhou Gäel Rolim, um dos voluntários que se inscreveu na iniciativa.
Lívia Pombal, outra voluntária, é estudante de musicologia histórica. “Há pouco tempo tive a oportunidade de participar num workshop de musicografia braille, e começaram-me a surgir várias questões ao nível de acessibilidade, sobre como toda a gente pode aproveitar um concerto da mesma maneira que eu aproveito. Foi por isso que decidi inscrever-me.”
Para esta jovem, juntar-se à comunidade de sopradores de imagem, neste âmbito, está a permitir-lhe “ganhar uma nova visão”, explicou. “Porque aprendemos a ver as coisas de uma nova maneira e a observar melhor o que, para [muitos de] nós, é banal”.